QUEM
SABE UM DIA ELE VIRÁ ME BUSCAR
O
carteiro me entregou uma caixa que vinha da Amazônia. Subi as escadas correndo
e abri o sedex, o isopor, até chegar a uma garrafa com um líquido cor de
bronze. Liguei para duas pessoas amigas, com quem costumava realizar práticas
esotéricas, e uma delas marcou encontro comigo na minha casa, sábado, às dez
horas da manhã. Éramos duas mulheres sentadas na sala de estar, olhando para um
cálice de cristal sobre a mesinha de centro. Decidimos que sim, íamos conhecer
o Santo Daime, ou ayahuasca (para os índios). Era uma época de profundo
desencanto e tínhamos ouvido dizer e lido que essa experiência nos levaria a
estabelecer uma conexão com o divino.
Bebemos
do líquido amargo, era espesso, Daime chocolate, meu amigo escrevera no
bilhete. Minha amiga deitou no sofá e eu sentei no chão. O chá não fazia
efeito, comentamos. De repente, ela me olhou e gritou: “Não boceja, não boceja,
tu estás te transformando em uma rosa”. Senti vontade de ir ao banheiro e
encontrei tudo diferente. Havia o som de uma cachoeira, o vaso sanitário não
era branco, tinha o formato de uma grande flor cor de rosa, decorada com folhas
verdes. Muito grande para