MI GENERAL (à Cândida Rodrigues)
Suados, cansados, enfim chegamos.
Era um prédio antigo, bem mais de
dois séculos, mas ainda imponente e bem conservado.
Bem destacado à frente, em bronze
antigo, se destacava uma placa, anunciando em tom solene “ Memorial ao General
dos Pampas Oscar Rodrigues”.
Meio atabalhoados e ansiosos,
nós, eu e minha tia, junto com os demais idosos turistas saímos do pequeno
ônibus, sedentos por água fresca e ar puro, e
nos atiramos no primeiro bar que vimos.
Mas, nem bem começávamos a nos
refazer das mais de duas horas de viagem, sob um calor seco, que o velho ar condicionado da relíquia
chamada ônibus, não conseguia vencer, e, sem dó nem piedade, porque o tempo era
curto e havia outra excursão que sairia
para Porto Alegre à noite, já nos
colocaram em marcha em direção a grande
aventura do dia.
Em fila indiana, entramos no
prédio.
E assim, neste ritmo, prosseguia
a excursão.
Era um dia quente de primavera,
em que o vento que entrava janela adentro,
mal e mal refrescava os visitantes e, pior, com a pouca umidade, de
pronto os deixava extenuados.
Mas, alheia a tudo, e com uma
disposição incomum perante a adversidade, à frente de todos, seguia minha tia,
puxando o cordão.
Minha tia, que nunca foi
econômica com as palavras, não demonstrava que neste momento passaria a sê-lo,
e sem o mínimo desconforto com a alta temperatura, não cansava de se admirar com a obra do General.
A cada fala do guia, que com a
voz empostada fazia a apresentação dos objetos que formavam o acervo do museu,
logo após, incontinente, se fazia ouvir por todos uma voz poderosa e incisiva.
De fato, mal pontuava o alegre
apresentador:
- Está é a espada que o General
Rodrigues usou em sua campanha pela libertação da pampa.
E, minha tia, deveras impressionada com a referida arma, que tinha olhado com extremo interesse,
apesar de sua aparência meio enferrujada e com o cabo gasto e sem brilho -, sem
peias, comentava:
- Mas que “espadaço” tinha mi General (com o profundo som do
“erre” castelhano ponteando a consoante inicial da patente).
Nada a abalava, nem mesmo quando
o prestimoso funcionário mostrou uma antiga e gasta bota, tamanho 45.
Nem ai ela se deteve, após uma
brevíssima pausa, num respirar fundo que cortou o silêncio da comitiva, saiu,
invariável, a exclamação.
- Mas que botaço tinha mi
General!
E assim íamos, entre odes aos
pertences e feitos de...mi General, e prosseguíamos nesta procissão sem
santo, até que, finalmente, chegamos ao
ápice da visita.
Neste ponto, o Chefe do
Cerimonial, se acercando do grupo, de forma solene, anunciou:
- Estas são as cinzas do
Generalíssimo Rodrigues.
Desta feita, minha tia se acercou
com cuidado e quase com reverência, olhou a pequena urna de ferro cheia até
quase a borda e, ainda desta vez, não se conteve, do fundo dos pulmões,
asseverou com profunda devoção.
- Como pitava, mi General.
Nenhum comentário:
Postar um comentário