sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

DE GALOCHA E CARTEIRINHA - Crônica de Marga Cendón (Uruguaiana, RS)

DE GALOCHA E CARTEIRINHA

É fácil identificar um chato. Como? Simples: Pelo comportamento constante. É sempre o bom, o justo, o dono da verdade. O que conhece as pessoas mais importantes e fala nelas com um arzinho de desdém, como se todas as celebridades comessem na sua mão. Ele finge estar prestando atenção na conversa, mas assim que toma a palavra, não solta até o último bocejo do interlocutor. Qualquer fato mencionado já aconteceu com ele ou com algum amigo dele que ninguém conhece. E, lógico, ele corta a história do outro para contar a sua. E nos mínimos detalhes. Porque todo chato é prolixo. Outra peculiaridade, é sempre se colocar como exemplo para ilustras suas longas narrativas. Com autoestima elevadíssima, é um apaixonado por si mesmo e faz absoluta questão de deixar isso muito claro. “Primeiro ele, segundo ele, terceiro ele”. O resto do mundo vem depois.

Não tente comentar com o chato sobre algum lugar que você queira muito conhecer. Ele já foi. E se não foi,
o lugar é brega ou mal frequentado. Basta alguém dizer que comprou um equipamento novo, seja lá o que for, ele logo desvaloriza para enaltecer o próprio equipamento. Sim, porque ele tem ou já teve um do mesmo tipo, porém, muito melhor.

O chato que se preza é também um especialista em conselhos. Daqueles que a gente não pede, mas por fragilidade acaba ouvindo. E como grande conhecedor da alma humana, ele fala com propriedade sobre o que é melhor para a vida dos outros. Decide quando e como as coisas devem ser feitas e não aceita ser contrariado. Quando algo dá errado, ele diz: “eu avisei, não quis me
ouvir”. E fica repetindo sem deixar que o problema do outro seja esquecido.

Todo o chato é
fanático. Por alguém ou por alguma coisa. E faz disso um método de tortura, uma vez que expressa seus sentimentos a toda hora, salientando as qualidades do alguém ou da coisa que elegeu para adorar. E sendo esse seu principal assunto, força os demais a escutá-lo com atenção.


Penso que o tipo ocasional, onde se inclui a maioria, tenha salvação. Afinal, somos humanos e suscetíveis às intemperes da chatice. Mas, cá com meus botões, desconfio que para o chato de galocha e carteirinha, aquele que extrapola todas as fronteiras do suportável, nem o inferno é o limite.

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