NA PRAIA
As crianças
chegaram à frente. Nos rostos, a alegria incontida, que um céu semiacinzentado
emoldurava.
-Já, já essas
nuvens se vão. Faz como eles.
Os pares de
chinelos diminutos, abandonados durante a desabalada carreira, me autorizaram.
Nos pés, a sensação macia, tépida, aconchegante. O sol estivera mesmo por ali,
há pouco. Revolvi os grãos finos com o dedão. Incontáveis; mas cada grão é
único. Fui em direção ao mar que avançava, lenta e soberanamente. Ouvi uma voz,
dizendo:
-Olha como
correm!
Sorri
satisfeita; perseguiam uma gaivota que já longe ia. Os pezinhos nus rasgavam o
fino lençol d’água que lambia a areia. Naquele instante, o vento afastou nuvens
frágeis, trazendo um brilho caloroso, e também o sal do oceano. Será que esse
sal é daqui? Ou de além-mar? Minha curiosidade foi aguçada pelo sedimento úmido
e duro, conchas, e muitas pedrinhas, que acariciavam rudemente as solas de meus
pés. À minha frente, mar e horizonte, misturando-se ao longe.
Voltei; já ele
tinha preparado a esteira, com nossa refeição. Uma cadeira preguiçosa
aguardava.
-Senta.
-Prefiro a
areia, disse.
Deitei-me de
costas, apoiada em meus cotovelos. O calor crescente não me intimidava.
-Te sentes
cansada?
Sim, me sentia
cansada. Mas ter vencido tudo, metástases, quimioterapias, tornava aquele
cansaço insignificante.
Observei a onda
que vinha e a outra, logo atrás. Na espuma que traziam, a minha, a tua, as
nossas vidas. E a do filho que um dia eu quero ter.
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