sábado, 31 de outubro de 2015

UM NOVO GÊNESIS - Crônica de Sergio Medeiros Rodrigues (Porto Alegre, RS)

UM NOVO GÊNESIS

No princípio havia apenas Energia.

E uma imensa massa sólida de matéria bruta.

O tempo e o espaço como medida, ainda não existiam, habitavam a matéria.
...
Somente uma forma una e multifacetada habitava todo o éter.

Uma Energia pura, simétrica, sem arestas, equilibrada e infinitamente harmoniosa, preenchendo a insondável e ilimitada abstração primordial.

Apenas energia e aquela massa escura, composta de matéria sólida, bruta.

Opostos em sua essência, como a dualidade dos seres.
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E quis a energia, ser também matéria, e quis estender a harmonia a esta coisa escura e inerte chamada massa sólida.

Eram infinitas dimensões paralelas.

A energia de infindáveis mundos, com várias vertentes, e a massa, única ainda a ser moldada e ainda presa a apenas uma dimensão.
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E, no início deste idílio, desta fusão, deu-se o que chamamos big bang, a grande explosão que formou o Universo – tal como hoje o conhecemos.
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E tem início a criação deste novo lugar, a abnegação do Espírito ínsito a energia, antes sem substância concreta, apenas abstração e força,  em harmonia, energia sem parte sólida, a
ceder algo de seu para engrandecer e exaltar o que viria a se chamar vida e seu sentido, humano.

A comunhão da energia, pura e bela, com a matéria, substância bruta a ser moldada.

A massa, a ser transformada, E o aprendizado da energia, antes sem substância concreta, apenas abstração força e harmonia. Energia sem parte sólida, algo inteiramente diverso.

Como criar desta substancia escura,  luz, como retirar deste barro imemorial, uma figura bela e perfeita, como a pura energia oriunda da primeira luz harmoniosa se expandindo no infinito, nos primórdios de um outro gênesis, nem mesmo vislumbrado em sonhos.

A energia sem fim, frente a uma imensa massa definida e em expansão.

A evolução sempre se dá com harmonia.

E as variações se mostram na desconformidade desta comunhão, na impossibilidade de certas formas coexistirem em espirais concêntricas e harmônicas de evolução.

Um balé de imagens, energia e massa se mesclando, surgindo em novas formas, brilhantes, lindas, neste vir a ser celestial, de seres contingentes, destinados a imagem e semelhança.

E, nada que não seja evolução e construção coletiva evolui em formas, neste constante reviver.

Ressurgindo e renascendo em novas formas, até a perfeição.

A liberdade criou novas vidas, novos seres, novas responsabilidades, somente colocadas a prova para superar os obstáculos de cada etapa da evolução.

A inveja, o ódio, a raiva, por sua capacidade intrínseca de corrupção e desagregação da matéria na transformação completa da massa sólida em interação com o espirito, impedem, por si só, a capacidade de interação evolutiva, levando a auto destruição.

A matéria, ainda corrompida, resta presa a sua composição primordial, que não permite sua elevação a outras dimensões, postergando sua ascensão.

A ida a outro plano, não prescinde de paz, de energia direcionada a criação, uma simples fissura pode  desarmonizar  todo o bloco, não há espaço para partes que não evoluam a aceitação e a coordenação solidária  e conjunta, o esforço comum.

Não há espaço para o dissenso, somente a busca de soluções comuns, a unificação de opostos, a convergência para um só destino, para uma só viagem, um só corpo, como um todo evoluindo, aos poucos, em fragmentos, mas formando uma imensa massa, um corpo multifacetado num espírito uno.

Enfim em harmonia, o Universo, energia e massa em harmonia, e em expansão.

A energia agregada a matéria transformando-se em matéria harmônica, lapidada e etérea como a luz, livre como a energia para fazer evoluções entre dimensões, a matéria virando energia e com ela interagindo e alternando passos.

A harmonia final, o eterno passeio, massa, energia, corpo, luz, e a cada instante novas formas, cada vez mais simples, cada vez mais complexas.

Em evoluções harmônicas infinitas, sempre recriando uma nova luz, uma nova forma.

E a beleza destas novas criações faz a cada novo renascer, um novo quadro, e a cada evolução novas e eternas partituras, como uma nova música, sempre num crescendo, sempre maravilhosa e empolgante.

E, neste imenso e infinito lugar, um fulgor divino, recriando e multiplicando o riso humano, um riso celestial, a energia em festa, estado puro de homens em seu fulgor de barro, transformado em luz .

E desta forma luminosa se transformando novamente em  formas concretas, interagindo com este novo conceito de vida, como criação eterna, de Deus para Deus e a Deus novamente.

A harmonia do espírito, energia e matéria, riso e fulgor, sólidos e etéreos, indissoluvelmente.

Homens, massa ainda aspirando a harmonia desta energia do universo, que, aos poucos, cada vez mais se transforma e, de sua origem primitiva como homens, se vai imbuindo, impregnando de toda energia espiritual que habita o universo,  vai se tornando forma luminosa.

E o Verbo se fez carne.

E o homem, imagem e semelhança – massa, forma e  imagem, com livre arbítrio para se recriar e interagir com o Espírito do Universo.
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O homem, um ser contingente, um ser em construção, fruto da união do Espírito com a matéria.

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