quinta-feira, 12 de novembro de 2015

TIO LAURO - Conto de Jorge Silveira Wernz (Alegrete, RS)

TIO LAURO (PIRAJUANO)
Rincão de São Miguel e seus personagens

Apareceu no Rincão, la pelos anos de 1958, vindo das bandas de São Francisco de Assis, mais precisamente de uma Região denominada Piraju, onde trabalhara com os LEIRIA.

Sua tez demonstrava a mestiçagem de Negro com índio; seu temperamento calmo, excessivamente calmo, e sua paciência com as crianças dava-lhe logo logo, a confiança dos Estancieiros.

Estabeleceu-se primeiramente como agregado, se não me falha a memória na estância que arrendava na época, o Seu Aparício Marques.

Sua montaria, uma égua tordilha que trazia "ao pé" um potro doradilho, frente aberta que ele batizara com o nome de PIRAJUANO em homenagem, talvez, à sua querência.

Com o passar do tempo, descobriu-se que toda aquela bondade tinha o seu tanto de defeito. O Tio Lauro era dado à bebida, e não pouco...

Este vício fez com que ele fosse passando de estância em estância , sendo admitido por todas as suas qualidades e despachado dois ou três meses depois, quando botava a mão nos trocos e "breteava" rumo ao bolicho.

Mais tarde, quando já garbosa e orgulhosamente montava seu pingo PIRAJUANO é que seu nome fez estória.

Com parada certa lá no
fundo do Rincão , no bolicho do João Paz, a cena iniciava. Chegava, atava o pingo no palanque, entrava no bolicho e pedia ao João duas rapaduras das pequenas que vinham atadas uma encima da outra; tirava com todo o cuidado a palha de uma, levando-a para o PIRAJUANO saborear. E como saboreava...chegava a espumar no canto da boca.

As que sobravam, guardava na mala de garupa e, com o pingo já satisfeito pela rapadura ofertada, voltava ao bolicho para tomar suas "canhas".

Inúmeras vezes Tio Lauro foi encontrado caído no corredor com o fiel PIRAJUANO a seu lado, não se sabia se cuidando o companheiro ou esperando a rapadura guardada na mala de garupa. E, assim, sua vida seguiu por muito tempo.

A última vez que o vi, foi no verão de 1973, na Estância São Joaquim, como empregado de um alambrador.

Mala suerte do Tio Lauro ao soltar a alavanca para frouxar a terra de um buraco, esta caiu-lhe no pé , decepando seu dedão direito.


Será que Deus em sua infinita bondade levou Tio Lauro junto com seu Pingo, pra caserear na ESTÂNCIA GRANDE DO CÉU?! E por lá, terá algum bolicho pra comprar as tão desejadas rapaduras?!

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