A MULHER DO AVON
Eu não sabia quem
era o Seu Avon, mas a mulher dele, seguidamente, aparecia lá em casa para uma
longa prosa com minha mãe.
Eram amigas, acho
que eram amigas desde a infância, minha mãe oferecia chá com bolachas Maria ou
um mate doce. Teve uma tarde que elas detonaram uma jarra de Q-suco de morango
com bolachas de água e sal. Naqueles tempos não havia o temor da balança e do
diabetes. A mulher do Avon era muito querida, trazia revistas que minha mãe
folheava, atentamente, e em outras vezes trazia presentes.
Nos dias de visita
– normalmente na hora do almoço – a mãe comentava que tinha que preparar algo
para esperar a mulher do Avon. O pai não gostava dela, achava uma mala sem
alça, decerto tinha lá os motivos dele.
Nos meus dez anos
o que importava eram os jogos de futebol no campinho próximo da minha casa,
andar na Monareta e assistir Bonanza nos finais de tarde. As amigas da mãe
eram, apenas, amigas da mãe.
Mas me intrigava o
oculto do Seu Avon. Deveria ser uma pessoa importante, tão importante que a
mulher dele não tinha nome, era simplesmente a mulher do Avon.
Certo dia a mãe
falou que a mulher do Avon estava doente e foi visitá-la no hospital. No dia
seguinte a mulher do Avon falecera. Foi um dia muito triste lá em casa, aliás,
em toda a vizinhança.
Quando meus pais
voltaram do velório perguntei como estava o Seu Avon – aquela pessoa importante
que nunca tinha visto –, afinal, eram amigos da nossa família e eu tinha que
mostrar um interesse no acontecido.
– Que seu Avon,
guri? – minha mãe devolveu a pergunta.
– A mulher dele
não morreu? Ele está bem?
Com um semblante
ainda triste, minha mãe sorriu e não disse nada.
E eu nunca fiquei
sabendo quem era aquele tal de Avon.
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