segunda-feira, 21 de setembro de 2015

NÃO ME TOQUE - Conto de Maria da Graça Rodrigues (Porto Alegre, RS)

NÃO ME TOQUE

- Saia daqui, Dorival. Não me toque, nunca mais. Nem depois que eu estiver morta! Não permitirei que você conduza sequer uma alça de meu caixão!
E Dorival, obediente como ele só, roçava com a pontinha dos dedos os fios compridos da cabeleira rebelde da ex-namorada.
Pecador confessava-se arrependido pela asneira cometida num momento de cegueira.
Diante daquele júri implacável, por quem fora condenado sem direito a apelação, perguntou a meia-voz:

- Que faço com o estojo de veludo onde guardo duas alianças? Pretendia, justo hoje, surpreendê-la. Eu e você, para sempre, só nós dois e ninguém mais.

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