segunda-feira, 21 de setembro de 2015

AMIGAS - Conto de Paulo Ras - (Paranaguá, PR)

AMIGAS

- A Arminda ainda tem a alma juvenil.
- Pois é... Uma jovem de noventa anos.
- Dança, brinca, dá risadas, anda de bicicleta...
- Fôlego de criança...
- Desde quando conhecemos ela?
- Faz uns oitenta anos.
- E ela sempre do mesmo jeito... Linda
- Até a cara...
- Pois é... Parece a mesma mocinha... Um doce...
- Ortomolecular...
- O que?
- Tratamento...
- Mas a cara...
- É plástica...
- E muita...
- Assim até eu...
- E eu também...
- E ela sempre foi exibida...
- Roubou meu primeiro namorado...
- O meu também...
- Safada...
- Verdade... Continua a mesma... Uma velha sirigaita...
- Lembra que ela pulava a janela de casa para encontrar o namorado escondido?
- Fez isso até depois de casada...
- Cretina...
- Nunca valeu nada...
- Aquela carinha de santa...
- Por isso que apelidaram de Fogueteira... Quietinha, mas quando acendia o pavio... Era o que diziam...
- Assanhada...
- Cachorra isso sim... Lembra do primeiro marido?
- Se lembro!
- Manso e rico...
- Essa nasceu com sorte...
- Verdade...
Silêncio.
Arminda pula a janela.
Sai sorrateira.
- Lá vai ela... Pensando que é menina ainda...
- Quem?
- A Arminda!
- Quem é essa?
- Esquece...
- Do que?
- Da Fogueteira... Mas o enfermeiro pega ela antes do portão... Safada... Sempre pulando a janela...
- Eu queria ter pulado a janela quando era criança...

- Eu também... Pena que a minha sempre foi muito alta... Pena que a minha eu sempre deixei fechada...

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