TALES E ELA
Tales era menino
mirrado, mijado pela mãe e cagado pelo pai. Vivia pela rua tipo bicho, correndo
de um lado pro outro. Num dia almoçava na casa da avó, noutro pernoitava ao
lado da tia. Olhava os outros com olhos esbugalhados, sorriso amarelo e uma
barriga cheia de fome.
De manhã,
devorava pão com manteiga, um copo de leite e se vestia com a roupa que tinha.
Só encontrava sossego no colégio. Entrava na sala voando. Sentava na última
fileira, quase agarrado pela parede. Imóvel permanecia até a chegada dela.
Quando apontava na porta, era um desnorteio só... Ela com aquele ar suave que
mudava a expressão desorientada daquele guri e enchia de brilho aqueles olhos
estralados.
Tales prestava
atenção em todos aqueles movimentos. Percorria com o pescoço os vai e vens pela
sala e se perdia naquele balanço. Para ele, era o embalo mais bonito que já
tinha observado.
Atento, se
desprendia de conversas e do auê dos colegas. Se comprometia a copiar o roteiro
escrito no quadro e terminar o mais ligeiro possível seus deveres. Quando
terminava, eis que surgia a hora mais eufórica do dia.
O tal instante
em que ele atravessava toda a classe e chegava perto da alongada, rodada e
azul, saia da professora. O menino suava frio por entre os dedos, prendia o
caderno contra o peito, como quem transportasse um tesouro e sofria por
aproximação. Seu tema pronto era a desculpa para poder contemplar a beleza daquela
saia delineada pela cadeira. A correção pouco o importava, do sorriso da
professora, ele nem lembrava. Tales queria mesmo era morar embaixo da barra
daquela saia para sempre... (ou até quando tocasse o sinal).
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