sábado, 2 de janeiro de 2016

RIMAS INFELIZES - Conto de Vera Ione Molina Silva (Uruguaiana, RS)

RIMAS INFELIZES

Às nove e meia da manhã, uma moça entregava, na veterinária, objetos para serem doados ao Canil Municipal. O cachorrinho morreu ontem e, pela expressão decidida no rosto, ela deve ter feito tudo para salvá-lo.

Duas mulheres, mãe e filha talvez, descreviam o câncer, a ascite e outras doenças, enquanto um boxer que devia ter sido muito possante recebia medicação. Era velhinho, dezessete anos, mas o da vizinha tinha vinte. Por que o Ringo?


E a outra? Batera na porta às oito horas e ainda observava o soro, o antibiótico, a vitamina no bracinho minúsculo da bebê cachorra. Os cabelos despenteados, os botões da blusa desencontrados, cantava rimas infelizes para a melodia de Frère Jacques que pediam: São Francisco, São Francisco/ olha aqui, vem aqui/ olha a menina, cuida da menina,/ Felicity, Felicity.

Nenhum comentário:

Postar um comentário