quinta-feira, 26 de novembro de 2015

CRÔNICAS DE VINGANÇA - Crônica de Luiz Alexandre Cruz Ferreira (Ribeirão Preto, SP)

CRÔNICAS DE VINGANÇA


Um advogadinho, inimigo meu, viajou para Porto Seguro de férias. Nem bem chegou e, como bom mineiro, foi dar boas vindas às vagas eternas. Depois, sorrindo satisfeito, ali mesmo, naquela areia escaldante, sob a retumbante luz de um sol generoso, olhando para onde os azuis do céu e do mar se misturavam exuberantes, comeu satisfeito um enorme espeto de lustrosos camarões fritos. Duas horas depois foi obrigado a recolher-se a toda pressa ao seu quarto no hotel, tentando durante todo o percurso, sem muito sucesso, dissimular o barulho dos gases excitados que distendiam seu intestino como se estivessem envolvidos em um turbulento e escandaloso motim. Durante quase uma semana, apesar de se alimentar somente de água e Imosec, um verdadeiro Vesúvio de cabeça para baixo cuidava de provocar uma erupção atrás da outra, para a infelicidade de meu desafeto. Obrigado àquela rotina de deitar-se na cama e sentar-se no vaso, o combativo defensor de causas impossíveis se permitiu um momento de distração e, depois de deitar-se no vaso, acabou cagando na cama. Só melhorou da odienta virose no dia de ir embora. Invocado, não querendo dar-se por vencido, resolveu dar um último passeio pela praia com o claro intuito de vingar-se dos invejosos que certamente, mesmo a distância, com seus poderosos quebrantos, acabaram causando seu infortúnio. Trocou-se com cuidado (naturalmente redobrado ao amarrar o tênis), abriu a porta do quarto e no corredor foi surpreendido por uma violenta briga entre um marido violento e uma mulher bêbada que corria, ensanguentada e escandalosa, pelo hotel. Numa sala suja da delegacia local, esperado a hora de ser ouvido como testemunha do incidente, viu brilhar o prateado de um avião sob o pano de fundo de um céu imaculado. Era o seu voo que retornava sem turbulências para as saudosas Alterosas.

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