CRÔNICAS DE VINGANÇA
Um advogadinho,
inimigo meu, viajou para Porto Seguro de férias. Nem bem chegou e, como bom
mineiro, foi dar boas vindas às vagas eternas. Depois, sorrindo satisfeito, ali
mesmo, naquela areia escaldante, sob a retumbante luz de um sol generoso,
olhando para onde os azuis do céu e do mar se misturavam exuberantes, comeu
satisfeito um enorme espeto de lustrosos camarões fritos. Duas horas depois foi
obrigado a recolher-se a toda pressa ao seu quarto no hotel, tentando durante
todo o percurso, sem muito sucesso, dissimular o barulho dos gases excitados
que distendiam seu intestino como se estivessem envolvidos em um turbulento e
escandaloso motim. Durante quase uma semana, apesar de se alimentar somente de
água e Imosec, um verdadeiro Vesúvio de cabeça para baixo cuidava de provocar
uma erupção atrás da outra, para a infelicidade de meu desafeto. Obrigado
àquela rotina de deitar-se na cama e sentar-se no vaso, o combativo defensor de
causas impossíveis se permitiu um momento de distração e, depois de deitar-se no
vaso, acabou cagando na cama. Só melhorou da odienta virose no dia de ir
embora. Invocado, não querendo dar-se por vencido, resolveu dar um último
passeio pela praia com o claro intuito de vingar-se dos invejosos que
certamente, mesmo a distância, com seus poderosos quebrantos, acabaram causando
seu infortúnio. Trocou-se com cuidado (naturalmente redobrado ao amarrar o
tênis), abriu a porta do quarto e no corredor foi surpreendido por uma violenta
briga entre um marido violento e uma mulher bêbada que corria, ensanguentada e
escandalosa, pelo hotel. Numa sala suja da delegacia local, esperado a hora de
ser ouvido como testemunha do incidente, viu brilhar o prateado de um avião sob
o pano de fundo de um céu imaculado. Era o seu voo que retornava sem turbulências
para as saudosas Alterosas.
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