ENTRE MIL OUTROS
Naquele dia,
algo diferente moveu-se na contraluz do fim da tarde, hora em que os fantasmas,
misteriosamente, tomavam conta da varanda. Não era a brisa de maio sacudindo os
eucaliptos que margeavam o caminho, nem sonho, miragem ou fruto do delírio de
proximidade que há muito lhe roubara o sono. Apurou a vista em direção ao vulto
e de longe reconheceu o passo. Cansada das lições de espera impostas pelo
silêncio, correu ao seu encontro. Cerrou as pálpebras e, como cega, tocou-lhe a
face com a palma das lembranças. A barba por fazer e os sulcos que o tempo
havia desenhado não confundiram as pontas dos seus dedos. Ela o reconheceria,
entre mil outros, ainda que mil anos os tivessem separado.
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