quinta-feira, 26 de novembro de 2015

VESTÍGIOS - Crônica de Terezinha Lanzini (Canoas, RS)

VESTÍGIOS


O Paraíso se refaz ao primeiro sopro do alvorecer. Se pudesse descrever esse lugar assim seria: qualquer coisa entranhada no pampa. Aquela superfície verde, tão grande quanto a esperança e a liberdade. Vivo aqui, onde, ao reabrir a janela a cada manhã, vejo a paisagem que amanhece molhada pelo sereno da noite e acena com uma réstia de poesia que se alastra em uma lânguida espiral de luminosidade.

No inverno, surge como um xale branco vitrificado e quebradiço a cobrir os campos e o pastiçal. Quando a primavera chega, é tempo de acordar cedinho. Afasto as cortinas e, através da varanda, vejo surgir as primeiras luzes do dia que, aos poucos espalha sobre a coxilha uma nuance dourada, cor da aurora, que aos poucos toma conta de tudo e desperta a vida. Durante a travessia de meu olhar, me encanta a mistura do verde e do azul, o cheiro da água e o capim surgindo com a transparência.

Olho aquela nesga do outro lado do rio e presto atenção no imenso céu calado sobre o burburinho de vida que fervilha no pampa: canto de cigarras, pássaros que voam de um lado para outro, garças pousadas nos córregos e as
ondulações que formam extensas coxilhas, vales, campos cobertos de verde à exaustão, banhados apinhados de flores, marrecos e um horizonte que se perde na distância.

Tento fazer um poema que foge espantado pela revoada das andorinhas que agora rumam para o sul. Resta, então, celebrar o voo dos bem-te-vis e ver ao longe, o amarelo dos girassóis que neste ano floresceram mais cedo. O vento sempre chega ao final da tarde em sinfonia com o silêncio e o Paraíso se refaz ao primeiro sopro do entardecer.


Assim, diariamente, através de largas janelas, a vista do pampa, do rio, das árvores carregadas de ninhos e flores, lírios que dormem à sombra de uma figueira, me transmitem a paz e a calma que respiro para ser feliz. 



(inspirada na Casa do Paraíso de M.Cendón)

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