SOBRE
INTELIGÊNCIA E LOUCURA
Coisa que me
impressiona muito é a glamurização e/ou ridicularização das pessoas que padecem
de distúrbios emocionais/mentais. Uma sobrinha da minha vizinha de porta andou
interessada por um moço que já foi internado algumas vezes. Chegaram à moça e à
mãe da moça ora histórias sobre a genialidade do rapaz em questão, ora
histórias sobre seus problemas mentais.
Eu já avisei a
minha vizinha que eu acho as duas atitudes ridículas. Quem passou pela vida sem
nenhum percalço? Quem nunca sofreu até pensar que estava enlouquecendo ao
perder a capacidade de se comunicar com as pessoas que estavam próximas? (Isso
acontece muito na depressão). A ignorância é a mãe do preconceito. Nem sei se
esse provérbio existe, se não existe, acabei de inventá-lo. Do preconceito mau,
porque o preconceito, assim como o colesterol, pode ser bom [fruto do
conhecimento] ou mau, fruto das fofocas das vidas minúsculas. O preconceito
ruim seria o do mexerico, o “sabias que aquela é completamente louca”? “Sabias
que na família dela quase todos têm problemas graves de loucura, e são gênios
também, todos são os melhores no que fazem”. Já o preconceito bom seria fruto
do conhecimento. Eu conheço através de estudos e leituras uma determinada
doença mental, então vou tomar todos os cuidados para não prejudicar
determinada pessoa até levá-la a uma crise.
Acredito até que
existam pessoas que reúnem um grande problema emocional com um grande talento
literário, ou musical, ou para as artes plásticas, para as
ciências exatas, mas
que “todas as pessoas muito inteligentes são loucas”, isso é mito e ninguém me
convence do contrário.
Então venham com
exemplos, sempre os mesmos, a escritora Virginia Wolf, o cientista que ganhou o
Prêmio Nobel, Van Gogh. Que tristes exemplos, pessoas que sofreram muito e
tiveram vidas cheias de dor, mas, apesar disso conseguiram criar grandes obras.
“No início do
século XX, a busca pelas raízes da genialidade era um dos temas mais palpitantes
da investigação psicológica.
Cientistas de
ponta tinham poucas dúvidas de que certos males psíquicos davam asas à
imaginação. "Quando um intelecto superior se une a um temperamento
psicopático, criam-se as melhores condições para o surgimento daquele tipo de
genialidade efetiva que entra para os livros de história", sentenciava o
filósofo e psicólogo americano William James (1842-1910). Pessoas assim
perseguiriam obsessivamente suas idéias e seus pensamentos - para seu próprio
bem ou mal -, e isso as distinguiria de todas as outras.
Sigmund Freud
também se interessou pelo assunto. Convicto de que encontraria "algumas
verdades psicológicas universais", analisou vida e obra de artistas e
escritores famosos, buscando pistas de transtornos mentais. (Fonte Revista
Duetto).
Logicamente
muitas dessas pesquisas, que se estenderam até o século XXI, deixaram marcas
profundas no pensamento coletivo.
Mas eu proponho
uma reflexão ao leitor. Os seus amigos mais inteligentes estudam ou desenvolvem
seu trabalho abaixo de sofrimento? Acredito que não, pelo menos o que se
considera inteligência hoje não impõe sofrimento, ao contrário, propõe uma vida
organizada, calma. Os meus amigos escritores, artistas, médicos, advogados que
mais produzem, em geral, têm uma vida que lhes dá muita estrutura, uma vida sem
muitos sobressaltos porque para criar/estudar/inventar a pessoa tem de estar
tranquila, ter um ambiente familiar saudável, estar bem-humorada, muitas vezes
até o companheiro ou companheira os secretaria para que não sejam perturbados.
Conheço pessoas
que poderiam criar tanto na literatura, quanto nas artes plásticas e, por
excesso de perturbação, bebida, falta de concentração, sofrimento não conseguem
cumprir seus compromissos. Então, foi-se a oportunidade de tornar-se um gênio,
porque o que constrói um gênio é a prática alicerçada na teoria, os famosos 90%
de transpiração.
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