quinta-feira, 26 de novembro de 2015

SOBRE INTELIGÊNCIA E LOUCURA - Crônica de Maria Clara Prati (Porto Alegre, RS)

SOBRE INTELIGÊNCIA E LOUCURA

Coisa que me impressiona muito é a glamurização e/ou ridicularização das pessoas que padecem de distúrbios emocionais/mentais. Uma sobrinha da minha vizinha de porta andou interessada por um moço que já foi internado algumas vezes. Chegaram à moça e à mãe da moça ora histórias sobre a genialidade do rapaz em questão, ora histórias sobre seus problemas mentais.
Eu já avisei a minha vizinha que eu acho as duas atitudes ridículas. Quem passou pela vida sem nenhum percalço? Quem nunca sofreu até pensar que estava enlouquecendo ao perder a capacidade de se comunicar com as pessoas que estavam próximas? (Isso acontece muito na depressão). A ignorância é a mãe do preconceito. Nem sei se esse provérbio existe, se não existe, acabei de inventá-lo. Do preconceito mau, porque o preconceito, assim como o colesterol, pode ser bom [fruto do conhecimento] ou mau, fruto das fofocas das vidas minúsculas. O preconceito ruim seria o do mexerico, o “sabias que aquela é completamente louca”? “Sabias que na família dela quase todos têm problemas graves de loucura, e são gênios também, todos são os melhores no que fazem”. Já o preconceito bom seria fruto do conhecimento. Eu conheço através de estudos e leituras uma determinada doença mental, então vou tomar todos os cuidados para não prejudicar determinada pessoa até levá-la a uma crise.
Acredito até que existam pessoas que reúnem um grande problema emocional com um grande talento literário, ou musical, ou para as artes plásticas, para as
ciências exatas, mas que “todas as pessoas muito inteligentes são loucas”, isso é mito e ninguém me convence do contrário.
Então venham com exemplos, sempre os mesmos, a escritora Virginia Wolf, o cientista que ganhou o Prêmio Nobel, Van Gogh. Que tristes exemplos, pessoas que sofreram muito e tiveram vidas cheias de dor, mas, apesar disso conseguiram criar grandes obras.
“No início do século XX, a busca pelas raízes da genialidade era um dos temas mais palpitantes da investigação psicológica.
Cientistas de ponta tinham poucas dúvidas de que certos males psíquicos davam asas à imaginação. "Quando um intelecto superior se une a um temperamento psicopático, criam-se as melhores condições para o surgimento daquele tipo de genialidade efetiva que entra para os livros de história", sentenciava o filósofo e psicólogo americano William James (1842-1910). Pessoas assim perseguiriam obsessivamente suas idéias e seus pensamentos - para seu próprio bem ou mal -, e isso as distinguiria de todas as outras.
Sigmund Freud também se interessou pelo assunto. Convicto de que encontraria "algumas verdades psicológicas universais", analisou vida e obra de artistas e escritores famosos, buscando pistas de transtornos mentais. (Fonte Revista Duetto).
Logicamente muitas dessas pesquisas, que se estenderam até o século XXI, deixaram marcas profundas no pensamento coletivo.
Mas eu proponho uma reflexão ao leitor. Os seus amigos mais inteligentes estudam ou desenvolvem seu trabalho abaixo de sofrimento? Acredito que não, pelo menos o que se considera inteligência hoje não impõe sofrimento, ao contrário, propõe uma vida organizada, calma. Os meus amigos escritores, artistas, médicos, advogados que mais produzem, em geral, têm uma vida que lhes dá muita estrutura, uma vida sem muitos sobressaltos porque para criar/estudar/inventar a pessoa tem de estar tranquila, ter um ambiente familiar saudável, estar bem-humorada, muitas vezes até o companheiro ou companheira os secretaria para que não sejam perturbados.

Conheço pessoas que poderiam criar tanto na literatura, quanto nas artes plásticas e, por excesso de perturbação, bebida, falta de concentração, sofrimento não conseguem cumprir seus compromissos. Então, foi-se a oportunidade de tornar-se um gênio, porque o que constrói um gênio é a prática alicerçada na teoria, os famosos 90% de transpiração.

Nenhum comentário:

Postar um comentário