quarta-feira, 14 de outubro de 2015

ALZIRA - Conto de Paulo Ras (Paranaguá, PR)

ALZIRA

- Corno! Corno! Você é um corno, Peixotinho!
- Cala a boca, Alzira!
Os gritos ecoavam pelo pequeno prédio. A cena já estava feita. Peixoto descontrolado. Alzira nua. E o amante trancado no banheiro.
- Você é uma desclassificada!
- E você um frouxo!
- Você é a mãe dos meus filhos! Porra Alzira!
- Por isso você virou corno Peixotinho! Eu quero ser fêmea.
Atônito o marido arregalou os olhos.
- Vou soletrar para você: F-Ê-M-E-A! Entendeu? Fêmea.
- Mas eu sempre pensei que você queria ser mãe, Alzira!
- Porra Peixotinho! Que mulher sonha em ser mãe, ficar embagulhada e nunca mais ter sexo na vida?
Ele fez menção de responder. Foi bruscamente interrompido.
- Não venha me dizer “Mamãe, Alzirinha!”. A bruxa da tua mãe é uma amarga e foi corna durante 30 anos. O safado do teu pai morreu em um motel barato com duas putas de beira de estrada.
Quis levantar a mão.
- Bate corno. Bate e depois vai correr para chorar no colo da bruxa.
Furioso foi para cima dela.
- Vai. Bate em mim Peixoto. Faça alguma coisa de macho nessa vida. Mas bate com vontade que eu adoro apanhar.
Ele foi baixando a mão lentamente.
- Mas você é um frouxo mesmo, Peixotinho.
Alzira se levantou da cama. O corpo arrepiado. Os bicos dos seios denunciavam a excitação. Ela virou e mostrou a bunda para o marido.
- Está vendo essas marcas de dedos? Foi o meu macho que fez. Tatuou esse tapa em mim, Peixoto. E eu fiquei louca.
O amante começou a rir no banheiro.
- Cala a boca, Clarício. Você é outro frouxo. Isso quem fez foi o Tião Mão de Onça. Eita homem com H maiúsculo.
O amante ficou quieto.
Ela virou para o
marido. Deu de cara com um 38 apontando para ela.
- Vai Peixoto. Atira! Atira! Me mata vai. E mata o Clarício também!
- Eu não! Eu não!
Depois da negativa o barulho. Clarício se jogou do banheiro e caiu na caçamba de lixo. Saiu correndo pela rua nu, mas vivo.
No quarto, Alzira ainda se mostrava descontrolada. Se olhava no espelho pelo canto do olho e via o corpo ainda exuberante para os 45 anos. Sentia os seios doerem e as pernas tremelicarem tamanha era a excitação que sentia.
- Vai Peixoto! Atira. Atira corno.
Peixoto tremia.
- Me mata ou me joga na cama, me trata que nem fêmea.
Peixoto começou a pressionar o gatilho. Olhou Alzira. Ela exalava um perfume diferente.
- Eu...
- Diga Peixoto! Fala porra!
- Eu... amo você Alzira.
E se jogou aos pés de Alzira, chorando.
Ela desistiu.
- Você é um filhinho de mamãe mesmo Peixoto. Você é um menininho que não cresceu. Você só vai ser macho quando aquela cobra for embora.
Ela vestiu a roupa e foi. Peixoto recolheu a arma e também saiu.
Duas horas depois chegou em casa. O casal de filhos na escola. Alzira no banho. Ele abriu a porta do banheiro. A arma na mão.
- Alzira!
- Que foi Peixoto?
- Cala a boca sua vagabunda!
Alzira se espantou e abriu a porta do box.
Assustou-se. Peixoto estava nu, ereto como a anos ela não via.
- Nossa Peixotinho!
- Cala a boca porra.
E esbofeteou Alzira com vontade. Ela passou a mão no rosto. Sorriu.
Ele jogou a arma no chão e amou Alzira ali mesmo. Bufava feito um animal no ouvido da mulher que se perdia em gemidos como nunca havia se perdido antes. Quem era aquele homem? Ficou extenuada. Peixoto acendeu um cigarro.
- Peixoto, você nunca fumou!
- Alzira vem cá.
Ela foi engatinhando. Chegou perto e levou um tapa na bunda.
- Fica quieta vai!
A campainha tocou. Alzira foi atender. Peixoto se vestiu rápido e foi atrás.
Ela abriu a porta.
Peixoto algemado.
Atirou na mãe. Matou a bruxa.
Ele saiu sorrindo irônico.
Alzira ficou excitada.

Agora tinha um marido bandido.

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