VOVÓ VEIO MORAR CONOSCO E VÊ COISAS QUE NÃO ENTENDO
Ela entrou no meu quarto, o dedo apontando para mim,
olhos escancarados:
- Duplas de Pedro e Paulo em todas as esquinas do
quarteirão, um federal do outro lado da rua. Eu enxergo longe, a mim você não
engana.
Segurei os fones de ouvido, chamei minha mãe e narrei
a cena. Ela tomou a vó pelo braço e, com voz compreensiva, começou a falar:
- Calma, mamãe, acho que não é nada do que você está
pensando. Se for, eu tomarei providências.
Sempre achei minha avó estranha. Sandálias rústicas,
saia longa estampada, bata e colares de contas miúdas. No quarto, um pôster
daquela mulher de oclinhos redondos e cabelos crespos que tem a voz mais triste
do mundo.
Arrumei minha bolsa para a academia, tomei uma
vitamina com todas as frutas que encontrei em casa e peguei o elevador.
Perguntei ao porteiro se algum Pedro ou algum Paulo
tinham perguntado por mim, ele disse que não.
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