NO MEU TEMPO
Algumas gerações cresceram nas ruas tranquilas
de antigamente. Depois chegou a época dos malandros de playground, que desciam
até as áreas de lazer dos edifícios para compartilhar vivências. Posteriormente
surgiu o menino de quatro paredes, vidrado no game e a sete chaves, na clausura
imperceptível representada por seu quarto de sonhos virtuais. Uma secreta
aliança com a negativa do diálogo ao vivo e universal. Passaram a viver pela
voz da máquina fria e sem interrupções ou indagações, para não falar em contestações
ou colóquios, onde o sangue quente das palavras faz o coração bater na réplica
imediata dos argumentos e no ensaio do crescimento intelectual ao vivo. No meu
tempo, como se alguém pudesse lhe inventar a posse, não havia celular, ipad,
iphone, play lll etc. mas se jogava bola de gude, abrindo-se búlicas na terra,
futebol nos campos de grama, soltando-se pipa a cruzar no ar. O papo era batido
a noite e nas esquinas debaixo dos postes de luz. Frequentando-se, ainda
adolescentes, as livrarias onde eram lidos prefácios, imediatamente, de obras
pelo circundar de livros à disposição nos locais magicamente iluminados pelas
cores e pela atmosfera de cultura existente.
E na minha
época, como se eu não tivesse mais cronologia, portava-se ainda, um radinho de
pilha, "Speack," e de alta tecnologia ...mental, que nos dava
condições de ouvir incontinenti as notícias que corriam pelo Brasil e no mundo.
E ligava as pessoas à esperança de coisas que já aconteciam a galope. Era,
depois do jornal, o meu clarinete diário emitindo sons e chiados em descompasso
que pareciam uivos em busca da razão vigente.
Hoje, já não há
mais espaço temporal para tanta coisa simples e boa de se fazer, nem gosto
pelos pés no chão numa tomada de circunstâncias diante do pensamento e em plena
praça da ação comunicativa.
No entanto,
independente de tudo, só me resta tirar a máscara do orgulho admitindo que a
velha história dos "meus tempos" um dia será recontada por esses de
que falo agora. E então observando-se outras espécies de comportamento no
futuro, pois que nada podemos contra a marcha da vida evolutiva.
Finalizando,
como "o bruxo do Cosme Velho" e autor de Quincas Borba advertia:
"nós matamos o tempo, mas ele nos enterra". E acrescento: cada qual a
sua maneira. É que também não posso saquear o "modus vivendi" alheio,
só porque as coisas no meu tempo estavam lá... para além da imaginação.
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