segunda-feira, 12 de outubro de 2015

NO MEU TEMPO - Crônica de Marcelo Meira (Rio de Janeiro, RJ)

NO MEU TEMPO

Algumas gerações cresceram nas ruas tranquilas de antigamente. Depois chegou a época dos malandros de playground, que desciam até as áreas de lazer dos edifícios para compartilhar vivências. Posteriormente surgiu o menino de quatro paredes, vidrado no game e a sete chaves, na clausura imperceptível representada por seu quarto de sonhos virtuais. Uma secreta aliança com a negativa do diálogo ao vivo e universal. Passaram a viver pela voz da máquina fria e sem interrupções ou indagações, para não falar em contestações ou colóquios, onde o sangue quente das palavras faz o coração bater na réplica imediata dos argumentos e no ensaio do crescimento intelectual ao vivo. No meu tempo, como se alguém pudesse lhe inventar a posse, não havia celular, ipad, iphone, play lll etc. mas se jogava bola de gude, abrindo-se búlicas na terra, futebol nos campos de grama, soltando-se pipa a cruzar no ar. O papo era batido a noite e nas esquinas debaixo dos postes de luz. Frequentando-se, ainda adolescentes, as livrarias onde eram lidos prefácios, imediatamente, de obras pelo circundar de livros à disposição nos locais magicamente iluminados pelas cores e pela atmosfera de cultura existente.

E na minha época, como se eu não tivesse mais cronologia, portava-se ainda, um radinho de pilha, "Speack," e de alta tecnologia ...mental, que nos dava condições de ouvir incontinenti as notícias que corriam pelo Brasil e no mundo. E ligava as pessoas à esperança de coisas que já aconteciam a galope. Era, depois do jornal, o meu clarinete diário emitindo sons e chiados em descompasso que pareciam uivos em busca da razão vigente.


Hoje, já não há mais espaço temporal para tanta coisa simples e boa de se fazer, nem gosto pelos pés no chão numa tomada de circunstâncias diante do pensamento e em plena praça da ação comunicativa.

No entanto, independente de tudo, só me resta tirar a máscara do orgulho admitindo que a velha história dos "meus tempos" um dia será recontada por esses de que falo agora. E então observando-se outras espécies de comportamento no futuro, pois que nada podemos contra a marcha da vida evolutiva.


Finalizando, como "o bruxo do Cosme Velho" e autor de Quincas Borba advertia: "nós matamos o tempo, mas ele nos enterra". E acrescento: cada qual a sua maneira. É que também não posso saquear o "modus vivendi" alheio, só porque as coisas no meu tempo estavam lá... para além da imaginação.

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