O PECADO DE BEATRIZ
A mão de
Beatriz, entre firme e delicada, agarrava com gana o negócio a sua frente. O
corpo retesado, a face corada, mal disfarçando a excitação e aquela timidez
faceira de ninfeta. Ofegante, ouvia o coração disparar enquanto a respiração
pesada fazia abrir e fechar o peito como fole de acordeão e os seios
insinuarem-se por baixo da blusa fina. O homem a encarava de cima para baixo
com um meio sorriso, divertido e desafiador, cofiando o bigode ralo. Aparentava
seguro e altivo como já tivesse visto mil garotas naquela exata posição. Ele em
pé, ela sentada sobre os calcanhares, as pernas grossas encolhidas. Arrepiada
em toda geografia de seu corpo jovem e bem fornido que habitava os sonhos de
puberdade dos colegas da escola. Beatriz segurava e admirava com desejo e
surpresa aquilo que lembrava-lhe um gordo salame ou uma banana caturra, embora
lhe parecesse muito mais apetitoso.
Hipnotizada,
sentia nos dedos gelados de nervosismo o calor daquela coisa roliça e comprida,
que dava a impressão de pulsar e crescer ao seu toque. Sabia que já tinha ido
longe demais, mas toda relutância era vã diante de seus anseios mais primitivos
e a voz sedutora do homem que lhe encorajava, quase sussurrando:
– Vamos, ponha-o
na boca. Não precisa ir até o fim se não gostar…
Beatriz não era
santa. Já tinha visto outros daqueles, mas nunca um tão grande e grosso, e
nunca tão de perto. Quanto mais próximo de seu rosto, maior lhe parecia e mais
suculento. Era uma verdadeira obscenidade. Deus-o-livre a mãe a visse agora!
Por certo faria um escândalo, imputar-lhe-ia castigos atrozes. Então era pra
isso que a tinha parido e criado?! Os melhores colégios, as roupas de grife, os
tratamentos de beleza, os concursos de miss mirim e as pompas de debutante,
nada disso tinha valor?
Assim,
atormentada pelo fantasma da censura materna e a centímetros de abocanhá-lo,
Beatriz hesitou e virou o rosto num relance, voltando à posição inicial.
Houvesse ali uma plateia, teriam todos exclamado “óóóó”, atônitos, como quando
num jogo de futebol a bola explode na trave.
Parou, refletiu,
assistindo a um duelo interno entre razão e desejo cuja duração não se pode
precisar em medidas de tempo, tal qual um sonho. Acontece que, na arena dos
corações adolescentes, a razão raramente sobrevive ao embate. Sagrou-se, então,
vencedor o desejo, e o troféu indecente aguardava ainda na mão paciente de
Beatriz, onde mal cabia.
Brincou um pouco
com ele nos dedos antes de levá-lo à boca. O bigode do homem agora abria-se num
sorriso largo como as asas de um morcego. Ela começou lambendo a ponta, o cume,
de onde ameaçava transbordar a seiva doce que vinha do interior do orifício
estreito. Depois explorou com a língua toda sua extensão, da base ao topo e de
volta, esquadrinhando, deleitando-se. Até que, entregue, enfiou tudo na boca,
salivando, arquejando, engasgando, indo e voltando, transfigurada em fêmea
voraz e animalesca, visceral. Devorou-o, em suma, até o estado de puro êxtase.
Quando terminou,
o suor lhe brotava da testa e encharcava a fenda do decote, mas Beatriz ainda
não estava satisfeita. Num gesto lânguido de malícia, percorreu com o dedo indicador
a periferia dos lábios a fim de limpar algum resquício do líquido viscoso que
tentara engolir por completo. Levantou empertigando-se e olhando firme nas
pupilas do bigodudo, exigiu:
– Mais um
churros de doce de leite, por favor. E foda-se a dieta!
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