terça-feira, 29 de setembro de 2015

O PECADO DE BEATRIZ - Conto de Leonardo Cendón Ávila (uruguaiana, RS)

O PECADO DE BEATRIZ

A mão de Beatriz, entre firme e delicada, agarrava com gana o negócio a sua frente. O corpo retesado, a face corada, mal disfarçando a excitação e aquela timidez faceira de ninfeta. Ofegante, ouvia o coração disparar enquanto a respiração pesada fazia abrir e fechar o peito como fole de acordeão e os seios insinuarem-se por baixo da blusa fina. O homem a encarava de cima para baixo com um meio sorriso, divertido e desafiador, cofiando o bigode ralo. Aparentava seguro e altivo como já tivesse visto mil garotas naquela exata posição. Ele em pé, ela sentada sobre os calcanhares, as pernas grossas encolhidas. Arrepiada em toda geografia de seu corpo jovem e bem fornido que habitava os sonhos de puberdade dos colegas da escola. Beatriz segurava e admirava com desejo e surpresa aquilo que lembrava-lhe um gordo salame ou uma banana caturra, embora lhe parecesse muito mais apetitoso.
Hipnotizada, sentia nos dedos gelados de nervosismo o calor daquela coisa roliça e comprida, que dava a impressão de pulsar e crescer ao seu toque. Sabia que já tinha ido longe demais, mas toda relutância era vã diante de seus anseios mais primitivos e a voz sedutora do homem que lhe encorajava, quase sussurrando:

– Vamos, ponha-o na boca. Não precisa ir até o fim se não gostar…

Beatriz não era santa. Já tinha visto outros daqueles, mas nunca um tão grande e grosso, e nunca tão de perto. Quanto mais próximo de seu rosto, maior lhe parecia e mais suculento. Era uma verdadeira obscenidade. Deus-o-livre a mãe a visse agora! Por certo faria um escândalo, imputar-lhe-ia castigos atrozes. Então era pra isso que a tinha parido e criado?! Os melhores colégios, as roupas de grife, os tratamentos de beleza, os concursos de miss mirim e as pompas de debutante, nada disso tinha valor?

Assim, atormentada pelo fantasma da censura materna e a centímetros de abocanhá-lo, Beatriz hesitou e virou o rosto num relance, voltando à posição inicial. Houvesse ali uma plateia, teriam todos exclamado “óóóó”, atônitos, como quando num jogo de futebol a bola explode na trave.
Parou, refletiu, assistindo a um duelo interno entre razão e desejo cuja duração não se pode precisar em medidas de tempo, tal qual um sonho. Acontece que, na arena dos corações adolescentes, a razão raramente sobrevive ao embate. Sagrou-se, então, vencedor o desejo, e o troféu indecente aguardava ainda na mão paciente de Beatriz, onde mal cabia.
Brincou um pouco com ele nos dedos antes de levá-lo à boca. O bigode do homem agora abria-se num sorriso largo como as asas de um morcego. Ela começou lambendo a ponta, o cume, de onde ameaçava transbordar a seiva doce que vinha do interior do orifício estreito. Depois explorou com a língua toda sua extensão, da base ao topo e de volta, esquadrinhando, deleitando-se. Até que, entregue, enfiou tudo na boca, salivando, arquejando, engasgando, indo e voltando, transfigurada em fêmea voraz e animalesca, visceral. Devorou-o, em suma, até o estado de puro êxtase.
Quando terminou, o suor lhe brotava da testa e encharcava a fenda do decote, mas Beatriz ainda não estava satisfeita. Num gesto lânguido de malícia, percorreu com o dedo indicador a periferia dos lábios a fim de limpar algum resquício do líquido viscoso que tentara engolir por completo. Levantou empertigando-se e olhando firme nas pupilas do bigodudo, exigiu:

– Mais um churros de doce de leite, por favor. E foda-se a dieta!

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