sexta-feira, 2 de outubro de 2015

MEU AVÔ, MAIS MOÇO QUE EU - Crônica de Tunico Fagundes (Uruguaiana, RS)

MEU AVÔ, MAIS MOÇO QUE EU...!

Caminho na madrugada chuvosa, os relâmpagos clareiam as paredes da sala enquanto mais uma vez, "campereio" lembranças na noite que vai passando.
As fotografias "me olham" da parede enquanto penso no quanto elas se eternizam no instante em que são captadas, a imagem paralisa o tempo e ele não consegue envelhecer o retrato.
Meu avô me olha sorrindo, me dou conta que hoje ele é mais moço que eu, até parece que ele se diverte pensando: "Viu, agora és tu o mais velho "!
Me surpreendo com essa realidade, afinal sempre o achei velho com seus cabelos muito brancos e sua bondade alegre de avô
O espelho mostra em mim rugas, que meu avô não tinha, divulga o tempo que já passei que é um tempo superior, ao tempo que ele viveu.
Fico pensando no que ele estaria pensando na hora do instantâneo, o que estaria vendo? Para onde estaria olhando? De que ou de quem estaria lembrando? O que será que fez, logo depois do retrato? Caminhou ali pelo centro ou foi para o café falar de futebol, sua grande paixão? Será que teria algum compromisso naquela hora? O retrato me olha sorridente enquanto devaneio, imagino, especulo o tempo, mas este, não me responde nada.
Sigo caminhando pela casa e o retrato na parede permanece o mesmo, sereno, sorridente, presente e muito amigo, sinto como se ele me entendesse, me escutasse e acolhesse com tranquilidade minhas perguntas, fica claro que ele entende meus silêncios, minha introspecção, sabe da minha vontade de ter convivido mais com ele, de conversar mais, de dividir mais, acarinhar, dizer o quanto eu o queria e admirava.
Quem sabe agora ele está pensando: "Esse guri envelheceu e está ficando caduco"!

Normal que pense assim afinal, meu avô agora é mais moço que eu!

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