MEU AVÔ, MAIS
MOÇO QUE EU...!
Caminho na
madrugada chuvosa, os relâmpagos clareiam as paredes da sala enquanto mais uma
vez, "campereio" lembranças na noite que vai passando.
As fotografias
"me olham" da parede enquanto penso no quanto elas se eternizam no
instante em que são captadas, a imagem paralisa o tempo e ele não consegue
envelhecer o retrato.
Meu avô me olha
sorrindo, me dou conta que hoje ele é mais moço que eu, até parece que ele se
diverte pensando: "Viu, agora és tu o mais velho "!
Me surpreendo
com essa realidade, afinal sempre o achei velho com seus cabelos muito brancos
e sua bondade alegre de avô
O espelho mostra
em mim rugas, que meu avô não tinha, divulga o tempo que já passei que é um
tempo superior, ao tempo que ele viveu.
Fico pensando no
que ele estaria pensando na hora do instantâneo, o que estaria vendo? Para onde
estaria olhando? De que ou de quem estaria lembrando? O que será que fez, logo
depois do retrato? Caminhou ali pelo centro ou foi para o café falar de
futebol, sua grande paixão? Será que teria algum compromisso naquela hora? O
retrato me olha sorridente enquanto devaneio, imagino, especulo o tempo, mas
este, não me responde nada.
Sigo caminhando
pela casa e o retrato na parede permanece o mesmo, sereno, sorridente, presente
e muito amigo, sinto como se ele me entendesse, me escutasse e acolhesse com
tranquilidade minhas perguntas, fica claro que ele entende meus silêncios,
minha introspecção, sabe da minha vontade de ter convivido mais com ele, de
conversar mais, de dividir mais, acarinhar, dizer o quanto eu o queria e
admirava.
Quem sabe agora
ele está pensando: "Esse guri envelheceu e está ficando caduco"!
Normal que pense
assim afinal, meu avô agora é mais moço que eu!
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