CIDADELA
Estranhei quando
bateste à porta fora de hora...
Nunca vinhas
durante o dia, por medo de encontrar a casa povoada de passados que foram só
meus.
Aos poucos tirei
os retratos de cima dos móveis, porque os rostos pareciam te fixar -
confessaste olhando para o mesmo chão em que procuravas passos antigos.
Embora eu te
garantisse que passos não duram tanto tempo, achavas que eles são a assinatura
perene de quem perambula à vontade pela casa do outro. E que nunca morrem.
Depois, joguei
fora os quadros comprados em Veneza, pois odiavas o fato de meus olhos terem
possuído a cidade em outra companhia, apesar de eu ter te garantido que Veneza é impossuível por quaisquer olhos,
sós ou acompanhados.
Ultimamente, as
asas da minha respiração nem ousavam grandes voos, para evitar que tu me
imaginasses inspirando as impressões digitais deixadas pela casa por outras
mãos, o perfume esparzido no ar por outro corpo. Sem contar que eu já havia tido o cuidado de
alisar todos os tecidos, pois bastava uma dobra antiga para imaginares que ela
escondia enredos.
Não estranhei
quando bateste a porta fora de hora...
Nenhum comentário:
Postar um comentário