sexta-feira, 2 de outubro de 2015

DOMINIQUE - Conto de Paulo Ras (Paranaguá, PR)

DOMINIQUE

Dominique. Era assim que a gorducha chamada Jandira gostava de ser chamada. Tinha obsessão pela França. Achava elegante e chique. Falava com sotaque francês, mas nunca tinha saído do vilarejo em que nascera. Mudou-se para a capital. Virou prostituta. Dizia que viveu por anos em Paris, trabalhou em várias casas noturnas de Pigalle e teve clientes importantes, todos amantes das carnes avantajadas. Usava decotes menores que os seios. Extravagante. Beirando o bizarro.
Dominique.
Era assim que gostava de ser chamada.
Na primeira noite Dominique causou furor. Os seios fartos, o fogo, a obsessão por sexo. As gargalhadas eram ecos na casa.
- Mon chéri... Merveilleux...
E dá-lhe gemidos.
E na segunda, na terceira, na quarta, no primeiro mês.
- Mon chéri...
Gemia a Dominique.
E o caixa tilintava. Fazia sucesso. Voluptuosa nas camas. Fama instantânea. Todos queriam Dominique, a gorducha francesa. Ela falava do Moulin Rouge, Zahia Dehar e de uma certa Madame Mimi, mulher misteriosa que ela dizia ter sido a mentora nas artes do amor.
E a vida de Dominique ia às mil maravilhas. Dinheiro. Sexo. E francesa. Não poderia querer vida melhor.
Virou a preferida da boate. Uma celebridade. Os homens chegavam.
- Quero chéri... Dominique...
E na noite de função, uma voz rasgou o peito de Dominique.
- Jandira?
Gelou.
- Não acredito... Jandira...
Olhou. Era Benedito. Logo ele. Puta também ama. E era Benedito. Mas tinha que ser ele?
O magricelo chegou perto da moça.
- Que saudade de você Jandira!
As pessoas olhavam.
- O cavalheiro deve estar enganado. Meu nome é Dominique.
Ela suava pelas dobras. Tensa.
Pegou-o pelos braços e foi dançar.
- Que saudade Jandira!
E ele encostava a cabeça nos seios almofadados da pseudo francesa.
Ela fechava os olhos. Emocionada. Lembranças.
Mas, não queria voltar a ser Jandira.
Mas, queria revivê-la.
Puxou Benedito. Levou para o quarto. Arrancou as roupas, arremessou-o na cama. Devorou-o.
- Mon chéri...
Gemia.
Ecos pela boate.
Benedito sorria, mesmo sem entender.
- Que língua a Jandira está falando?
E a gorducha balançava as carnes. Lépida. Insana.
- Benê... Você sabe como chamam orgasmo na França?
Ele olhou interrogativo.
- La petite mort...
E antes que o pobre diabo se movesse, ela estremeceu. Sentou no abdômen dele. Pegou-o pela cabeça e começou a sufoca-lo entre os peitos. Ele se debatia. Agonizante. Ela não perderia seu segredo. Não queria mais ser Jandira.
E enquanto Benedito se estrebuchava, calmamente ela declamava versos soltos.
- E de te amar assim, muito e amiúde...
E as perninhas franzinas tremelicavam.
- É que um dia em teu corpo de repente...
E ela suava por todos os poros.
- Hei de morrer de amar mais do que pude.
E nos fartos seios de Dominique, Jandira morreu silenciosamente

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