DOMINIQUE
Dominique. Era
assim que a gorducha chamada Jandira gostava de ser chamada. Tinha obsessão
pela França. Achava elegante e chique. Falava com sotaque francês, mas nunca
tinha saído do vilarejo em que nascera. Mudou-se para a capital. Virou
prostituta. Dizia que viveu por anos em Paris, trabalhou em várias casas
noturnas de Pigalle e teve clientes importantes, todos amantes das carnes
avantajadas. Usava decotes menores que os seios. Extravagante. Beirando o
bizarro.
Dominique.
Era assim que
gostava de ser chamada.
Na primeira
noite Dominique causou furor. Os seios fartos, o fogo, a obsessão por sexo. As
gargalhadas eram ecos na casa.
- Mon chéri...
Merveilleux...
E dá-lhe
gemidos.
E na segunda, na
terceira, na quarta, no primeiro mês.
- Mon chéri...
Gemia a Dominique.
E o caixa
tilintava. Fazia sucesso. Voluptuosa nas camas. Fama instantânea. Todos queriam
Dominique, a gorducha francesa. Ela falava do Moulin Rouge, Zahia Dehar e de
uma certa Madame Mimi, mulher misteriosa que ela dizia ter sido a mentora nas
artes do amor.
E a vida de
Dominique ia às mil maravilhas. Dinheiro. Sexo. E francesa. Não poderia querer
vida melhor.
Virou a
preferida da boate. Uma celebridade. Os homens chegavam.
- Quero chéri...
Dominique...
E na noite de
função, uma voz rasgou o peito de Dominique.
- Jandira?
Gelou.
- Não
acredito... Jandira...
Olhou. Era
Benedito. Logo ele. Puta também ama. E era Benedito. Mas tinha que ser ele?
O magricelo
chegou perto da moça.
- Que saudade de
você Jandira!
As pessoas
olhavam.
- O cavalheiro
deve estar enganado. Meu nome é Dominique.
Ela suava pelas
dobras. Tensa.
Pegou-o pelos
braços e foi dançar.
- Que saudade
Jandira!
E ele encostava
a cabeça nos seios almofadados da pseudo francesa.
Ela fechava os
olhos. Emocionada. Lembranças.
Mas, não queria
voltar a ser Jandira.
Mas, queria
revivê-la.
Puxou Benedito.
Levou para o quarto. Arrancou as roupas, arremessou-o na cama. Devorou-o.
- Mon chéri...
Gemia.
Ecos pela boate.
Benedito sorria,
mesmo sem entender.
- Que língua a
Jandira está falando?
E a gorducha
balançava as carnes. Lépida. Insana.
- Benê... Você
sabe como chamam orgasmo na França?
Ele olhou
interrogativo.
- La petite
mort...
E antes que o
pobre diabo se movesse, ela estremeceu. Sentou no abdômen dele. Pegou-o pela
cabeça e começou a sufoca-lo entre os peitos. Ele se debatia. Agonizante. Ela
não perderia seu segredo. Não queria mais ser Jandira.
E enquanto
Benedito se estrebuchava, calmamente ela declamava versos soltos.
- E de te amar
assim, muito e amiúde...
E as perninhas
franzinas tremelicavam.
- É que um dia
em teu corpo de repente...
E ela suava por
todos os poros.
- Hei de morrer
de amar mais do que pude.
E nos fartos seios de
Dominique, Jandira morreu silenciosamente
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