CAFÉ GOSTOSO COM
MUITO AMOR
Ele defendia as
relações abertas, se queixava dos meus ciúmes. Um dia ele foi embora e eu não
entendia por quê. No momento em que ele decidiu separar de mim, eu estava muito
bêbada e, quando voltei à sobriedade, ele permaneceu irredutível.
Entrei numa
depressão que me imobilizava. Fazia terapia três vezes por semana e tomava
remédios para amenizar o sofrimento.
Chegou a época
de eleições. Como eu tinha participação política, algumas amigas atraíram
reuniões para a minha casa e, quando percebi estava envolvida com o comitê de
um candidato do interior.
Apareceram
pessoas daquela cidade e, entre elas, o presidente da Casa do Estudante. Vinte
e um anos, cabelos cacheados, cigarro aceso para se sentir mais à vontade ou
mais velho.
A reunião
terminou e ele permaneceu, creio que esperando por alguém que telefonaria.
Conversamos sobre a terra natal dele que eu chamarei de Nova Alegria. Era uma
cidade onde predominava a colonização alemã. Banda na praça festejando o Dia do
Motorista, comida farta preparada pela muter, cortinas xadrezes arrematadas por
babados. Mas não era uma localidade muito pequena, havia uma universidade,
movimento sindical e estudantil, bares e restaurantes sofisticados reunindo
pessoas bonitas e vestidas com as roupas da moda.
Vez por outra,
eu lembrava que o motivo pelo qual nos reuníamos era um candidato a deputado.
Aquele movimento em minha casa, o telefone chamando me traziam pouco a pouco de
volta para o mundo vivo. Marcelo era lembrado como aqueles namorados que
idealizamos na adolescência, que só trazem paixão e prazer. Eu me entusiasmava
cada vez que começavam a distribuir as tarefas do comitê e fazia jogos secretos
enquanto aguardava o meu nome no mesmo grupo de trabalho que o dele.
Marcelo-Lya, Marcelo-Lya, Marcelo-Lya... os dedos cruzados, o pensamento firme,
o coração batendo forte.
Ele aguardava um
telefonema e me inspirava tanta ternura que eu olhei nos olhos dele e
perguntei: posso tocar nos teus cachinhos? Ele fez que sim com a cabeça e se
encolheu no sofá. Depois me beijou, me fez carícias e, quando foi embora,
combinou a próxima vez.
Corri para abrir
a porta. Marcelo era o primeiro a chegar. O living encheu-se de gente com
propostas de textos, de tarefas, pautas de discussão. Nós trocávamos olhares
por cima das pessoas durante a reunião. Alguém pediu para ele ir à cozinha
preparar um café porque era o mais próximo da porta. Eu saí desviando de
almofadas, pés, mãos, caminhando sobre vinte pessoas para ajudá-lo.
Ele procurava
uma chaleira e eu me inclinei sobre a mão dele para apanhá-la. Era o nosso
primeiro e breve contato físico da noite e nossos corpos vibravam e nos
olhávamos como se quiséssemos brincar de esconde-esconde.
Marcelo encheu a
chaleira, enquanto eu procurava as xícaras, tudo devagarzinho para aquele
momento só nosso durar muito. Ele me pedia o café, o filtro, tateava dentro dos
armários para encontrar as coisas. Eu olhava para ele encantada, porque ele
estava na minha cozinha como se fosse na sua própria casa.
Fechei a porta
para não ouvir a discussão sobre conjuntura ou algo parecido. Nos
movimentávamos em silêncio.
Caminhei até a
janela. A vista do rio me transmitia a calma de que necessitaria para voltar à
sala com as bandejas. Ele chegou por trás e me abraçou, colando o corpo ao meu.
Me beijou os cabelos, o pescoço, acariciou minhas costas, segurou minha cintura
dizendo algo elogioso e eu me voltei para ele.
Marcelo levou
minha mão para o botão da calça jeans. Não consegui abrir. Ele ajudou, um
sorriso malandrinho. Desceu a calça e começou a levantar a minha saia. Eu o
ajudei a tirar a calcinha e ele me ergueu sobre o balcão da cozinha. Ele era
alto e a posição ficou perfeita. Eu beijei os cachinhos e me cheguei ao peito
dele. Ele parecia ignorar a gente toda que nos esperava. Calmo, me tomou como
se ele, de nós dois, fosse quem tinha trinta e seis anos e eu a mocinha de
vinte e um.
Bateram à porta.
A chaleira fervia. Ele gemia baixinho e eu não tanto. Os lábios dele tinham
gosto de figo, o beijo, o vigor dos dentes fortes dos jovens, a pele e o
cabelo... uma seda.
Nos vestimos sem
pressa e rindo muito da brincadeira. Preparamos um café gostoso e o servimos
com muito amor.
Achei-o muito envolvente.
ResponderExcluir