sexta-feira, 22 de abril de 2016

ATO FALHO - Conto de Dôra Borges (Cássia, MG)

ATO FALHO

Por aqueles lados, não havia diversão maior do que falar da vida dos outros. E Pedro Salomão não tinha “papa na língua”, como diziam os antigos.

No bar do Turvo, há quase duas quadras da praça principal daquela cidadezinha sem pressa de crescer, ele esperava a hora sagrada em que as moças donzelas rumavam à matriz para a missa das 18 horas.

Como era importante para ele reparar cada uma delas! E depois comentar com os colegas de copo.
Lá vinham as moças, sempre acompanhadas de irmãs ou de amigas. Andavam em pequenos blocos de três ou quatro, tagarelando até chegarem à porta da igreja. Seus vestidos eram bonitos, bem talhados e mostravam o estilo de cada uma, decentemente trajadas para a ocasião.

Ao terminar o desfile das beldades, os rapazes começavam os comentários maliciosos. E falavam da Ritinha, filha do Sr Túlio, da Joana sobrinha da D. Cota, da Alice, neta do prefeito e até da Gasparina, a filha do coveiro. Mas quem mais lhes chamava a atenção era a Tereza. Ah, a Tereza era formidável! Um sonho de mulher... comentava Pedro Salomão entre suspiros. E danava a listar adjetivos para ela, entre um gole e outro de cerveja, acompanhado pelos amigos. A conversa de boteco ia se apimentando até o final da celebração religiosa.

Em um dado momento, Antônio Tertuliano, um rapaz discreto que mais ouvia do que falava, incomodado pelo entusiasmo da prosa e pela exaltação de Pedro sobre a moça, resolveu se pronunciar. Apaixonado como era por ela, não podia deixar de aproveitar a oportunidade para defendê-la da falação e dos olhares cobiçadores dos rapazes da cidade. Sem muito pensar, foi logo dizendo:

- Tereza não é mais moça virgem.

Houve um silêncio instantâneo e uma exclamação quase unânime:

- Como você sabe??!

Antônio, se dando conta da besteira que havia cometido, foi logo dizendo:

- Só eu sei.

A missa acabou, e Tereza, acompanhada por duas amigas, passando em frente à mesa dos rapazes, bela e sorridente, olhou discretamente para o Antônio Tertuliano...

Mal sabia ela que, por ciúmes, a sua reputação acabara de ser manchada para sempre.

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