ATO
FALHO
Por
aqueles lados, não havia diversão maior do que falar da vida dos outros. E
Pedro Salomão não tinha “papa na língua”, como diziam os antigos.
No
bar do Turvo, há quase duas quadras da praça principal daquela cidadezinha sem
pressa de crescer, ele esperava a hora sagrada em que as moças donzelas rumavam
à matriz para a missa das 18 horas.
Como
era importante para ele reparar cada uma delas! E depois comentar com os
colegas de copo.
Lá
vinham as moças, sempre acompanhadas de irmãs ou de amigas. Andavam em pequenos
blocos de três ou quatro, tagarelando até chegarem à porta da igreja. Seus
vestidos eram bonitos, bem talhados e mostravam o estilo de cada uma,
decentemente trajadas para a ocasião.
Ao
terminar o desfile das beldades, os rapazes começavam os comentários
maliciosos. E falavam da Ritinha, filha do Sr Túlio, da Joana sobrinha da D.
Cota, da Alice, neta do prefeito e até da Gasparina, a filha do coveiro. Mas
quem mais lhes chamava a atenção era a Tereza. Ah, a Tereza era formidável! Um
sonho de mulher... comentava Pedro Salomão entre suspiros. E danava a listar
adjetivos para ela, entre um gole e outro de cerveja, acompanhado pelos amigos.
A conversa de boteco ia se apimentando até o final da celebração religiosa.
Em
um dado momento, Antônio Tertuliano, um rapaz discreto que mais ouvia do que
falava, incomodado pelo entusiasmo da prosa e pela exaltação de Pedro sobre a
moça, resolveu se pronunciar. Apaixonado como era por ela, não podia deixar de
aproveitar a oportunidade para defendê-la da falação e dos olhares cobiçadores
dos rapazes da cidade. Sem muito pensar, foi logo dizendo:
-
Tereza não é mais moça virgem.
Houve
um silêncio instantâneo e uma exclamação quase unânime:
-
Como você sabe??!
Antônio,
se dando conta da besteira que havia cometido, foi logo dizendo:
-
Só eu sei.
A
missa acabou, e Tereza, acompanhada por duas amigas, passando em frente à mesa
dos rapazes, bela e sorridente, olhou discretamente para o Antônio
Tertuliano...
Mal
sabia ela que, por ciúmes, a sua reputação acabara de ser manchada para sempre.
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