O
ESPECTRO DA MORTE TRAVESTIDO DE RELIGIOSIDADE ATACOU O MUNDO
Humor
e zombaria generalizada que se diferem, às vezes se confundem negativamente, em
um discurso incorreto que depois pode acarretar invocações padronizadas as
quais talvez, pelo momento vivido, não tragam à tona certas especificações que
compõem o âmago da questão. É que a validade da sátira tem escala que vai do
humor necessário ao irrefletido. O último quando propositadamente ofensivo é sórdido.
E o necessário, assim é porque a exposição humorística contra radicalismos cola
na retina das massas populares com maior memorização, propiciando daí mostrar o
obscurantismo que vem prosperando pelo mundo afora. Ironias colocam em foco a
estupidez radical, mas humor não existe quando radicalizado na afronta geral.
Essencial o equilíbrio na distinção das aplicações do que possa ser charge ou
sarcasmo. A liberdade de expressão deve prevalecer sem que seja utilizada para
humilhar religiosos e símbolos que lhes são atinentes. Humor enfatiza certas
situações lhes conferindo graça, mas não avilta. Todavia, não se pode querer
banir a vida e o discurso como ocorreu com a revista francesa na ação
terrorista. O rifle jamais vencerá a ideia absorvida na tinta do pensamento. As
sátiras fazem parte do cotidiano e podem evidenciar a boçalidade do
fundamentalismo radical.
Defendo
o direito da revista de publicar sem ter massacrada sua redação. Há que se
convir com a boa lógica do respeito aos princípios sérios que existem no mundo
da vida, os quais não podem coexistir com nenhum discurso execrável ou
discriminatório.
Uma
revista ou um jornal retratam comunidades de opiniões diversas. Uma revista não
nos representa inteiramente, mesmo que dizer “EU SOU CHARLIE” seja simbólico
para destacar com alcance mais rápido o absurdo cometido. Existe uma diferença
entre ISLÃ e terrorista islamista que não tem fronteiras. Assim como nem todo
muçulmano compactua com ideias relativas à nova geração de Jihadistas ou das
convicções do Estado Islâmico, assim sou a favor de CHARLIE ou das vítimas; não
sou contra a inscrição “JE SUIS CHARLIE”, que propicia mostrar a incultura e
não deixa relativizar o assassinato, mas não sou CHARLIE, pois a revista apesar
de ser uma boa combatente no círculo em que está inserida, não me parece dentro
de uma ordem racional que vez por outra, por conta de sua boa atuação, possa
descer às raias da irreflexão para insultar. Eu sou “Ahmed” o policial
executado de forma bárbara, deitado no chão e se rendendo com os braços
levantados. Eu sou as vítimas e, mesmo que profissionais do periódico, as
separo de algumas publicações, numa concepção maior de bens na humanidade, a
qual independe de razões para quaisquer dos lados. Eu sou a prevalência da vida
sem discussões de mérito porque de uma forma geral pode haver liberdade com
vida, mas não haverá liberdade sem vida.
Limita-se
o olhar quando se reduz esse ataque sofrido pelos jornalistas, na ideia mais
propagada, à liberdade de expressão que deve ser preservada. Observe-se que
algo além disso se apresenta. Um delito desse porte, no coração da França,
terra que simboliza liberdade, igualdade, fraternidade e direitos humanos,
carrega um emblema maior. O que está em jogo vai além e se configura então,
dentre muito mais, porque irá se alastrar pelo que será representativo no
decorrer desta centúria, porque se consubstancia em tentativa acirrada de
dominação política e religiosa que se estende, com todos os seus meandros, pela
terra em seus quatro cantos. O ataque foi a um complexo bem mais configurativo,
foi ao mundo, à vida com todas as suas implicações, presentes, passadas e relativas
ao novo século que agora, e ainda, está a gaguejar o futuro.
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