O
PECADO DO ARISTEU
Afastar-se
do inferno era o desejo maior do Aristeu. A sua vida parecia tão simples e sem
perigo que mal podia imaginar sequer chegar perto desse lugar.
Casado,
e feliz com a sua Marieta, a cada ano via nascer mais um filho. A casa se
enchia de alegria e de choro de crianças. Uma algazarra só.
Mas
foi numa quinta-feira qualquer, subindo a ladeira do capim gordura, chutando
pedrinhas e pitando o seu cigarro de palha, que ele se esbarrou com aquela
rapariga esguia, morena, de olhar fulminante, a lhe pedir que acendesse o seu
cigarro de papel, um “Charm” só. Meio sem jeito, mas gentil como sempre fora,
não viu mal nenhum em fazer-lhe esse favor. Com um sorriso largo, realçado
pelos dentes claros e o batom vermelho, a moça agradece com voz aveludada e
sensual a gentileza do rapaz e sai desfilando com a sua minissaia preta, blusa
de cetim azul turquesa, equilibrando em cima do salto da sua sandália amarela.
Naquela
noite ele não conseguiu dormir. A imagem da bela morena, de seios fartos,
transbordando pelo decote da blusa, não lhe saía da cabeça. Marieta estranhou a
sua inquietação, mas não comentou.
No
outro dia, ao voltar do trabalho, Aristeu continuou a chutar pedrinhas, mas
agora na esperança de reencontrar a sua musa.
Mais
um cigarro a acender... e assim foram transcorrendo as noites na subida da
ladeira. Até que em uma delas, ele não resistiu aos encantos da moça e deixou
Marieta e as crianças lhe esperando por algumas horas.
Foi
uma loucura só! Um desejo guardado que explodiu em meio aos lençóis macios
daquele quarto que ele nunca tinha entrado antes. Isadora! Esse era o seu nome.
E que nome bonito! Ele repetia ao voltar para casa.
Como
explicar a sua demora ao chegar? Nem carro tinha para dizer que havia
estragado. Tentou inutilmente inventar outra desculpa qualquer, mas não
conseguiu. Marieta, sua dedicada esposa, nem insistiu em saber, pois que já
havia desconfiado sobre o “mundo da lua” em que ele vivia. As crianças já
estavam dormindo.
No
outro dia, ao sair para o trabalho, viu um tumulto na ladeira do capim gordura.
Polícia e um monte de gente espiando. Chegou perto para ver e quase morreu de
susto. Lá estava o corpo de Isadora, cravejado de balas.
Não
sabia se chorava ou saía correndo. Era muito para aquela manhã...
Com
as mãos no bolso, desceu a rua e, intuitivamente procurou pela sua carteira.
Meu Deus! Não estava ali. Lembrou-se da última vez que a vira, na escrivaninha
daquele quarto. Um arrepio subiu-lhe pela espinha.
Sentiu
que algo de muito ruim estava por vir. Quando chegou ao final da rua, uma viatura
de polícia o esperava.
Aristeu
foi algemado e levado para o inferno.
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