CABEÇA
DE MÃE
Quando
dobrei a esquina, antes de ver as adultas que vinham no comando, fixei o olhar
naquela corda coberta por mãozinhas segurando-a firme.
Devia
ser quase hora de pegar as crianças na creche, precisava correr. Minha imagem
refletida na vitrine da loja de produtos esotéricos, o perfume de incenso, as
cores fortes desenhando mandalas. Eu tinha envelhecido muito. E o vestido largo
ponta abaixo, ponta acima, como dizia minha avó. Ouvi sua voz alta recomendando
que eu arrumasse o cós da saia, tinha que mostrar aquelas pernas bonitas.
Me
arrumei como pude com a ajuda dos vidros, estiquei as meias elásticas e voltei
a caminhar, tinha que ir para casa, queria descobrir notícias dos filhos, fazia
tempos que não falava com nenhum deles.
Passei
as mãos no vestido, agarrei uma mãozinha de cada lado e segui a caminhada. Eles
queriam saber que dia era, se eu ia ficar em casa de tarde, se nós íamos
retirar um vídeo na locadora, se podia ser mais de um.
Abri
a porta do prédio e segui para o apartamento onde vivia com os móveis que
consegui conservar, com os livros que eu nem me arriscava a folhear, com os
gritinhos finos dos filhos dos vizinhos pregando pregos no meu peito.
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