OLHOS
DE JABUTICABA
Em
sua cabeça acelerada- a calma somente repousava no dorso do menino. Molhado de
suor ou de rio- ele fechava os olhos enquanto ela contava os sinais do seu
corpo sem pelos. Ela cheirava a pele sem perfume só para guardar na memória a
lembrança de como era cheirar uma pele sem nada. Ele a olhava com olhos de
jabuticaba- sinceros espelhos- sem dizer uma palavra. Ela percorria as linhas
dos ombros dele imaginando gravar cada sarda.
O
seu dedo percorrendo o dorso era a máquina fotográfica da sua lembrança.
Ela
não imaginava o que ele sentia- ela ficava zangada sem uma palavra- ela não
sabia esperar- ela não sabia ver que naquele olhar de jabuticaba morava um
espelho- a subordinação ao toque- ao carinho. A sinceridade de não dizer nada
era o seu amor por ele- guardado no momento dos dois parados.
Ela
não sabia ler com os olhos- assim como ele olhava. E sem calma- brava- nasceu a
tormenta- a separação- o recado enviesado da danação. Olhares trocados de raiva
e de irritação.
E
na lembrança- tatuada pelos seus dedos- a razão pela qual ele se calava deitado
no chão. Ele se entregava à máquina fotográfica- ela tinha tudo em suas mãos. O
poder da sensação dos dedos percorrendo um dorso sem pelos- sem nada. Mas ela
não imaginava- não conseguia ver no espelho de jabuticaba.
Teimosa-
queria uma palavra!
Então
acabou sozinha- ainda não sabia a diferença entre imagem e palavra. Levantou do
chão e foi embora sem pele- sem palavras e sem ele. Somente depois de muitos anos
aprenderia a ler o olhar da jabuticaba.
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