O
VESTIDO DE ODÍLIA
Bordô
era a sua cor preferida. Nem pensava em comprar um vestido para a festa do seu
próprio casamento que fosse de outra cor.
-
Absurdo! dizia a sua mãe com raiva.
-
Você é a minha filha única e eu não admito passar por um vexame desses.
-
Mas mãe, eu sou diferente.
Sempre
respondia Odília com ar de superioridade.
A
mãe, inconformada prometia não comparecer ao casamento.
A
filha, que nem noivo tinha, pouco se importava com essa promessa.
Anos
se passaram... talvez uns 30. E nada da moça arrumar um noivo que a agradasse.
A bem da verdade, ela nem procurava.
Um
dia, distraída, esbarrou com um velho senhor, aparentando uns 87 anos mais ou
menos, quando seguia sua sombra da tarde, pela calçada da praça de São
Domingos, rumo à Sorveteria Rosa. O calor era quase insuportável e ela só
pensava no sorvete de passas ao rum. O senhor assustou-se e logo foi pedindo
desculpas, antes mesmo que a moça o fizesse. Odília, levantou a cabeça e sorriu
com o canto dos lábios, meio tímida.
Os
olhos esverdeados e cheios de brilho daquele homem tocaram a alma da moça. E sem
pensar, ela disse:
-
Vou tomar um sorvete. O senhor quer me acompanhar?
Que
convite mais inusitado! Não o conhecia, mas teve vontade de conhecê-lo.
Do
alto dos seus quase 47 anos, que mal tinha em arriscar a reputação por um
desejo?
Por
sua sorte (ou azar!?) o velho senhor, um viúvo entristecido, aceitou, meio sem
jeito, o convite. E a única coisa que Odília se lembra com orgulho é de que
pediu outro sorvete. Já não precisava mais do mesmo sabor.
No
altar da Igreja da Glória, a moça do vestido bordô, feliz da vida, casou-se com
Antenor, aquele velho senhor dos olhos “esmeraldados”, 40 anos mais velho do
que ela. Sua mãe não compareceu à cerimônia, agora duplamente revoltada, pois a
filha estava se casando com alguém mais idoso do que o próprio pai.
Na
saída, Antenor disse com o sorriso mais bonito do mundo, pois que transbordava
de uma alegria incontida, que jamais vira uma noiva com um vestido tão bonito.
E
era bordô!...
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