Vou-me
embora, vou-me embora,
prenda
minha
Tenho
muito que fazer
Tenho
de ir parar rodeio
Prenda
minha
No
campo do bem-querer
(Domínio
público)
Em
criança, quando eu pensava em Porto Alegre, era o monumento ao Laçador o que me
vinha primeiro à imaginação e não o hotel no qual eu me hospedaria, a cirurgia
de amídalas, os parentes que eu visitaria. Eu pensava imagens e construções
simbólicas. Em um artigo no Tribuna, eu fiz uma referência ao papel do folclore
no “despertar o sentimento nacionalista de um povo” sem emitir nenhum juízo,
hoje, pretendo dar umas pinceladas no assunto, sem a pretensão de escrever um
artigo acadêmico, por que não quero perder o contato com a poesia. E a poesia é
feita de símbolos construídos através de uma linguagem figurada. Quando eu
jantava no Quiosque, eu via aqueles antigos cartazes da Pepsi-Cola na parede e
os associava à melodia da Xula dos reclames do rádio e toda vez que ouvia a
Xula, eu colocava a letra: Pepsi-Cola eu bebo com satisfação, bebo no inverno,
bebo no verão.
Muitos
de nós sabemos que Getúlio Vargas, no final dos anos 30, denunciava o que ele
chamava de caudilhismo regional e o considerava uma ameaça à unidade
brasileira. Isso fez com que mandasse queimar bandeiras, como queimou
simbolicamente aquela que o ligava aos seus antigos mestres, Julio de Castilhos
e Borges de Medeiros. O historiador Mario Maestri escreve: “O Estado Novo
promoveu a invenção da cultura brasileira, substrato da identidade nacional
proposta e imposta. Foram criados órgãos e associações destinados à
divulgação-imposição do sentimento de amor à Nação: a Liga de Defesa Nacional,
o Departamento de Imprensa e Propaganda, a Juventude Brasileira, a Hora do
Brasil, a Rádio Nacional, etc”. Em 1945, com a redemocratização do país,
iniciam os movimentos culturais regionalistas que reafirmavam a especificidade
sulina, em oposição à proposta que marginalizara o Sul.
Aqui
eu me despeço do historiador que permitiu que eu conferisse dados e datas, pois
sei que ele entrará pelo caminho de uma crítica àqueles que apresentam o
passado de forma idealizada e romantizada, que cantam uma democracia rural que
não existia, ideia com a qual eu concordo, e volto a ser a criança que muito
antes de Caetano Veloso gravar Prenda Minha, sempre se emocionou com essa
canção. Embora eu não chame o meu amor de “meu bem-querer”, sempre associo essa
canção a grandes amores, a despedidas, a separações. Quem chegou até o
penúltimo parágrafo, fez uma leitura de um texto na primeira pessoa, que,
embora esboce algumas opiniões políticas, é essencialmente emocional, é
singelo, vai do particular para o geral, em suma, canta sua aldeia. Por falha
grave na minha atualização cultural, desconhecia essa nova gravação da música
que tanto me emociona, tenho certeza que agora muita gente acha de bom-tom
escutar Prenda Minha junto com música popular brasileira, americana e outros
ritmos de prestígio.
Vivemos
em um tempo em que a cópia é mais importante do que o original. As prendas se
orgulham de suas superproduções, fazer várias cirurgias plásticas confere
status, esposas reclamam de que maridos só acham bonitas as mulheres que
investem fortunas em si próprias e não “se dão conta que a beleza delas é
artificial”. É muito bom que o Caetano Veloso tenha levado nossa música para o
Brasil e para o mundo, com todas as dificuldades que temos em nos projetar fora
do Estado, mas, que a mesma composição, interpretada pelo Conjunto Farroupilha,
nos tocava mais fundo, isso ninguém de mais de 50 pode negar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário