sexta-feira, 22 de abril de 2016

DEPOIS - por Paulo Bentancur (Porto Alegre, RS)



Primeiro, o arrebatamento de ambos. Um pelo outro. Depois, a vigília da lascívia. O sexo mostrando que, intenso, não tem limites. Nas noites, juntos, as manhãs entravam na casa luminosas, mesmo nos dias de chuva. O primeiro café bom como café algum jamais fora. Os longos diálogos, os passeios para serem lembrados, a intimidade de declarações que beiravam a embriaguez.
Mas eram dois seres; logo, diferentes. Um dia, um grito dela:
– Não faz isso!
Ele, o coração encolhido – jogara-se na cama que gemeu pouco mais que um sussurro. Ele gostava.
Jogava-se eventualmente, distraído.
Em um mês, quatro gritos. Quatro vezes o coração do rapaz inchando e encolhendo.
Ele terminou antes que ela pusesse um basta.
Dois meses mais tarde, enxergou-a com outro, de mãos dadas, apenas os braços soltos na alegria do afeto, o jeito que ele lembrava.

E era como se ela jamais o tivesse amado.

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